Outras Notícias

FacebookTwitterRSS Feed

 

Todos os meses marcam motivos relativos à história do movimento da paz que merecem ser assinalados – entre estes, abril assume um particular significado.
 
Em 25 de abril de 1974, a Revolução foi, ela mesma, um ato de paz, abrindo caminho ao fim das guerras coloniais, à criação de novos países cujos povos conquistaram a sua independência nacional ou à plena relação de Portugal com todos os povos do mundo.
 
Dois anos mais tarde, a 2 de abril de 1976, era aprovada e promulgada a Constituição da República Portuguesa, que consagrava, no seu artigo 7° princípios fundamentais que regem – ou pelo menos deveriam reger – a política externa portuguesa, entre os quais: "a independência nacional, o respeito dos direitos do homem e dos povos, a igualdade entre os Estados, a solução pacífica dos conflitos internacionais, a não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados, a cooperação com todos os outros povos para a emancipação e o progresso da humanidade."
 
Segundo a Lei Fundamental, Portugal deve preconizar o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança coletiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos. Reconhece, igualmente, o direito dos povos à
autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão.
 
Nesse mesmo ano de 1976, outro acontecimento relevante marca indelevelmente a história do movimento da paz português: no dia 24 de abril efectuou-se o registo oficial do Conselho Português para a Paz e Cooperação. Consagrava-se formalmente o que há muito se verificava na prática – a existência de um movimento reunindo pessoas de diversas origens sociais e correntes de pensamento, unidas na defesa da paz, do desarmamento, do desanuviamento, da solidariedade aos povos vítimas da guerra e da opressão.
 
Um movimento surgido no início da década de 50, durante o fascismo, e que, até ao 25 de abril de 1974, não deixou de denunciar o alinhamento da ditadura com os que apostavam na guerra, no colonialismo (assumido ou encapotado) e na corrida aos armamentos para manter e ampliar privilégios e dominios. Por essa razão, muitos dos dirigentes e ativistas do movimento da Paz foram presos, torturados e forçados ao exílio.
 
Apesar das perseguições, das proibições e da repressão, nunca este movimento deixou de defender a paz e a solidariedade, surgindo à luz do dia, com a Revolução, como um movimento pujante, determinado e alargado: os princípios constitucionais, atrás enumerados, são bandeiras que o CPPC levantou desde os seus primeiros momentos, testemunhando quer a justeza das causas como a influência e premência assumidas pelo movimento da paz antes como após o 25 de abril.
 
Em Portugal, como um pouco por todo o mundo, este amplo movimento surgiu da vitória sobre o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial e das legítimas esperanças de paz duradoura e universal que ela abriu. Mas resultou, também, dos receios que uma nova e mais destruidora guerra se pudesse verificar, sobretudo após os bombardeamentos nucleares norte-americanos sobre as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui. Também em abril, mas de 1949, entre os dias 20 e 26, teve lugar simultaneamente em Paris e Praga o Primeiro Congresso Mundial dos Partidários da Paz, no qual participaram mais de dois mil delegados de 72 países. O Apelo que dele emanou mantém flagrante atualidade:
 
«Nós somos pela Carta das Nações Unidas, contra todas as alianças militares que anulam esta Carta e conduzem à guerra.
Nós somos contra o fardo esmagador dos gastos militares responsáveis pela miséria dos povos.
Nós somos pela interdição das armas atómicas e dos outros meios extermínio em massa de seres humanos, exigimos a limitação das forças armadas das grandes potências e o
estabelecimento dum controlo internacional efectivo da utilização da energia atómica para fins exclusivamente pacíficos e para o bem da humanidade.
Nós lutamos pela independência nacional e a colaboração pacífica entre todos os povos, pelo direito dos povos a determinar o seu futuro, condições essenciais para a liberdade e a paz.
Nós opomo-nos a todas as tentativas que, com o propósito de abrir caminho à guerra, procuram restringir e em seguida suprimir as liberdades democráticas. Nós constituímos um bastião global da verdade e da razão; queremos neutralizar a propaganda que prepara a opinião pública para a guerra.
Nós condenamos a histeria belicista, a pregação do ódio racial e da inimizade entre os povos. Preconizamos a denúncia e o boicote dos órgãos da imprensa, produções literárias e
cinematográficas, personalidades e organizações que fazem a propaganda para uma nova guerra.»
 
Deste congresso saiu o Comité Permanente dos Partidários da Paz, que em março do ano seguinte, lançaria o Apelo de Estocolmo, pela abolição das armas nucleares, que recolheria centenas de milhões de assinaturas em todo o Mundo. No final de 1950, no Segundo Congresso, seria finalmente constituído o Conselho Mundial da Paz – do qual o CPPC é, hoje, membro do Secretariado e do Comité Executivo e Coordenador para a Europa.
 
Assumindo o legado deste movimento e transportando na sua ação diária os seus princípios e objetivos, o CPPC assume no quotidiano aquele que é, desde sempre, o seu compromisso:
agir lado a lado com todos quantos, em Portugal e no mundo, intervêm com a aspiração e a convicção de que é possível um mundo justo, democrático, solidário e de Paz.
 
Como afirmou nesse longínquo abril de 1949, Frédéric Joliot-Curie, «a Paz é assunto de todos!»