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centenario laura lopes

Laura Lopes tem a sua assinatura no documento que deu existência legal ao Conselho Português para a Paz e Cooperação, datado de 24 de Abril de 1976. Fosse só por isso e fazia já parte da história do movimento da Paz português. Mas essa assinatura, longe de ser um acto isolado, é parte de um longo e corajoso compromisso com a luta pela Paz, pela justiça e pela liberdade, ao qual Laura Lopes se dedicou ao longo de décadas.
Nascida em Lisboa, a 29 de janeiro de 1923, numa família operária, Laura Lopes aprendeu muito cedo o que era a guerra e a repudiá-la: um amigo da família estivera nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, onde fora gaseado. Parte da sua juventude foi passada com o ouvido colado ao rádio, ouvindo as notícias sobre a Guerra Civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial. A infância e a juventude foram o terreno fértil de onde surgiram os ideais da vida adulta: no dia 9 de Abril de 1949, então com 26 anos, pratica o seu primeiro acto público de luta pela Paz.
Nesse dia, em que se evocava a batalha de La Lys, particularmente cruel para os soldados portugueses, o regime fascista homenageava-os junto do monumento aos Mortos da Grande Guerra, na Avenida da Liberdade. O MUD Juvenil decide prestar-lhes também o devido tributo: mal termina a solenidade oficial,
Laura Lopes – que integrava o núcleo do MUD Juvenil na Faculdade de Direito – coloca no pedestal da estátua um ramo de flores com um pequeno cartaz, onde se lia A Juventude Luta pela Paz. Cinco dias antes, há que não esquecer, o Portugal fascista participava na fundação da NATO, aliança militar agressiva ao serviço dos desígnios de domínio global dos EUA. Sombras negras de guerra pairavam uma vez mais sobre o Mundo.
Depois desta «estreia», nunca mais Laura Lopes deixou de defender activamente os valores da Paz. Em 1950 foi presa pela PIDE por recolher assinaturas para o Apelo de Estocolmo – apelo lançado pelo Movimento Mundial da Paz que exigia o fim das armas atómicas. No final de 1952, com Vasco Cabral e Manuel Valadares, integra a delegação do movimento da Paz português ao Congresso dos Povos para a Paz, em Viena, acontecimento que a marca profundamente. Já no ano anterior, fora uma das proponentes
da candidatura presidencial de Ruy Luís Gomes – a qual defendia, pela primeira vez de forma pública, uma política de Paz e independência nacional, em tudo oposta à submissão da ditadura à política externa aventureira e belicista dos EUA. Pela ousadia, seria anos mais tarde demitida do ensino.
Subscritora e apoiante activa de todas as campanhas promovidas pelo movimento da Paz ao longo dos anos, activista da Comissão Democrática Eleitoral (CDE) e participante no III Congresso da Oposição Democrática em Aveiro, Laura Lopes, vive por um curto período, em Paris, onde se liga à Comissão Nacional da Paz e Cooperação, constituída fundamentalmente por exilados políticos, e que intervém simultaneamente em Paris e em Portugal. Pouco antes do 25 de Abril, participa, em Sófia, na Assembleia do Conselho Mundial da Paz, acompanhada pelo escritor Urbano Tavares Rodrigues e pelo filósofo Vasco Magalhães Vilhena.
Fundadora do CPPC, pertenceu à sua Direcção Nacional e integra a sua Presidência desde que os estatutos foram elaborados. Na década de 80, cria, com outras mulheres, a Comissão de Desarmamento do CPPC, que durante largos anos desenvolve uma intensa e diversificada actividade. Após a Revolução, participou em diversas iniciativas internacionais relacionadas com a defesa da Paz, quer em representação do CPPC, quer de outras organizações e movimentos que fazem desta uma causa central, nomeadamente
o Movimento Democrático de Mulheres: entre elas, destacam-se a Conferência das Mulheres para a Segurança e Cooperação na Europa, em Helsínquia, e em reuniões, congressos, assembleias e encontros em diversos países do Mundo.
Também enquanto jornalista, escreveu em várias publicações artigos sobre a defesa da Paz, a corrida aos armamentos, a segurança e a cooperação europeias, os mesmos temas que a levam a percorrer o País em debates e conferências.
Professora, jornalista, advogada de presos políticos e, depois do 25 de Abril, de sindicatos, Laura Lopes é uma das mais destacadas lutadoras portuguesas pela Paz e faz parte da História do movimento da Paz e do Conselho Português para a Paz e a Cooperação.
A Direção Nacional do Conselho Português para a Paz e Cooperação deseja-lhe um feliz aniversário e espera que o seu exemplo, coerência e determinação nos guiem, hoje, na continuação deste justo combate que é o nosso.