No momento em que se assinala a passagem de 20 anos sobre o início da guerra e ocupação do Iraque, desencadeada pelos EUA e Reino Unido em 2003, e que contou com a vergonhosa subserviência e cumplicidade do Governo português de Durão Barroso e Paulo Portas, o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) recorda os inúmeros crimes de guerra cometidos contra a população do Iraque, o espezinhar do
direito internacional, a obscena operação de mentira em torno das ditas e nunca comprovadas “armas de destruição massiva” e “ligações à Al-Qaeda de Bin Laden” por parte das autoridades iraquianas de então.
Na verdade, a ocupação e destruição do Iraque teve como principais objetivos o controlo das vastas reservas de petróleo daquele país, o domínio geoestratégico daquela importante região do globo, a afirmação do poder hegemónico dos Estados Unidos da América perante o mundo, quer face a apontados «inimigos», quer a denominados «aliados».
A guerra do Iraque e as décadas de incessante conflito armado que desencadeou, provocou mais de um milhão de mortos e feridos, milhões de desalojados e refugiados, a destruição de infraestruturas e serviços essenciais para a população, a disseminação do terrorismo e da violência sectária, a desagregação e desmantelamento do Estado iraquiano.
Durante a ocupação foram utilizadas armas proibidas, como o fósforo branco – nomeadamente em Fajula, em 2004 – e munições com urânio empobrecido, responsáveis pelo aumento drástico de doenças do foro oncológico, malformações e o incremento súbito da mortalidade infantil. As prisões secretas e as torturas foram outras das macabras marcas da violenta ocupação norte-americana e dos seus aliados.
A guerra imposta pelos EUA em 2003 seguiu-se a mais de uma década de bombardeamentos e sanções contra o Iraque. Devido às sanções, mais de um milhão de iraquianos morreram, grande parte dos quais crianças, por falta de tratamentos médicos ou alimentação adequada. Recorde-se que até 1990, segundo a UNICEF, o Iraque encontrava-se nos lugares cimeiros relativamente à mortalidade infantil e nível de escolaridade.
Duas décadas passadas, é necessário continuar a denunciar a colossal mentira que os EUA e os seus aliados procuraram usar como pretexto para a agressão ao Iraque, assim como a unanimidade reinante nas principais cadeias mediáticas no apoio à propaganda de guerra dos EUA. No momento atual, novamente marcado por uma imensa propaganda de guerra disfarçada de informação, esta é uma memória e um ensinamento que importa reter.
A ação do Governo português de então – recorde-se a Cimeira das Lajes, nos Açores, entre Bush, Blair e Aznar, acolhida por Barroso e Portas –, violou frontalmente os princípios constitucionais, associando Portugal a uma brutal guerra e ocupação, quando se exigia uma firme defesa da solução política dos conflitos internacionais, o respeito pela soberania dos Estados, o desanuviamento, o desarmamento, o respeito pelos princípios da Carta das Nações Unidas.
É ainda de realçar o amplo movimento pela paz desencadeado nesse momento em todo o mundo, desmascarando as verdadeiras razões da guerra, denunciando os seus mandantes, exigindo a paz. Uma vez mais, nos dias de hoje, se impõe um amplo movimento pela paz e contra a escalada de guerra que poderá empurrar a Humanidade para a catástrofe.
Ontem, como hoje, é esse o objetivo, é esse o compromisso pelo qual o CPPC se bate.
Pela paz, todos não somos demais!