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Em representação do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), participei nas iniciativas que o Museu das vítimas do massacre de Nanquim realizou, 12 e 13 de Dezembro 2012, para assinalar o 75º aniversário desses trágicos acontecimentos, procurando, simultaneamente, dar a conhecer os factos históricos junto das novas gerações e promover a cultura da paz
 
As iniciativas decorreram no belo Museu e junto do magnífico Memorial que presta homenagem às vítimas das atrocidades então cometidas, tendo participado cerca de 10 mil pessoas, sobretudo jovens chineses de muitas escolas, mas também convidados estrangeiros, como o CPPC, uma delegação do Conselho Mundial da Paz (CMP), além de coreanos, japoneses e norte-americanos, e de uma delegação da Associação do Povo Chinês para a Paz e o Desarmamento com quem tivemos ocasião de reunir também em Pequim.
 
Neste moderno museu, inaugurado em 1985, mas com novos aditamentos e um enorme Memorial, aberto ao público em 2007 – um complexo que cobre uma área de 74 mil metros quadrados e uma praça de 25 mil metros quadrados, contendo dezenas de esculturas  - conta-se, de diversos modos, incluindo o áudio-visual, o que foi o horrível massacre de Nanquim, então capital da China, quando o exército invasor japonês praticou as mais cruéis atrocidades e violações, que vitimaram mais de 300 000 chineses, sobretudo no período de seis semanas, entre Dezembro de 1937 e Janeiro de 1938.
 
Como é conhecido, o imperialismo japonês tentou expandir-se pela Ásia, começando pela Coreia, invadindo a China em Julho de 1937, bombardeando e ocupando Xangai, Nanquim e outras regiões chinesas.
 
O exército invasor japonês raptou milhares de mulheres e adolescentes chinesas que utilizou nos bordéis que criou para as tropas japonesas, destruindo e massacrando milhares de famílias.
 
Mas os maiores massacres deram-se em Nanquim, como testemunham vários historiadores chineses e ocidentais, incluindo norte-americanos, e o próprio Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente confirmou.
 
Foi em Nanquim que se praticaram as mais horríveis violências contra civis, incluindo a violação de muitos milhares de mulheres e crianças, a execução em massa de pessoas civis nas ruas e praças, além dos prisioneiros, o assassínio indiscriminado de milhares de famílias nas suas casas e nos templos religiosos onde muitas se tinham refugiado.
 
 A luta dos povos da Coreia e da China e o combate do exército de libertação popular chinês contra o invasor japonês foram muito fortes e corajosos, tendo dado um contributo importante para o fim da Segunda Guerra Mundial nesta zona do mundo e para a derrota do imperialismo e do militarismo japonês na Ásia.
Entretanto, estes temas foram aprofundados no Seminário Internacional sobre a Paz, que aí se realizou, onde se deu conhecimento das pesquisas realizadas sobre a guerra e o massacre de Nanquim, se falou da situação actual e das ameaças à paz que se registam em muitos lados, dos novos perigos do imperialismo e da necessidade de reforçar o movimento internacional da paz.
 
Em nome do CPPC tive oportunidade de produzir a intervenção que junto.
 
Ilda Figueiredo
Presidente da Direcção do CPPC
 
Participação do CPPC no Seminário Internacional
Intervenção de Ilda Figueiredo
Nanquim, 13 de Dezembro de 2012
 
Caros Amigos
 
Agradecemos o vosso convite e transmito-vos as saudações fraternas do CPPC, bem como a todos os convidados presentes e às organizações que representam na defesa da paz e do povo dos vossos países.
 
Neste Encontro Internacional de Nanquim em memória das vítimas do massacre de 1937, onde os japoneses mataram mais de 300 mil chineses, gostaria de dizer algo sobre a situação no meu país - Portugal - com uma grave crise financeira, de efeitos económicos e sociais muito graves, os piores para as gerações actuais.
 
É uma crise que tem as sua principais causas nas políticas de integração capitalista da União Europeia, nos governos e maiorias parlamentares que os suportam, que aceitam e servem os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, que dominam e ganham com a situação actual contra os interesses e o bem-estar das populações.
 
A União Europeia, o seu Banco Central Europeu, o Fundo Monetário Internacional, os governos da União Europeia e as maiorias parlamentares que os apoiam, tentam fazer pagar aos trabalhadores as crises de que são responsáveis, lançando a mais perigosa ofensiva contra os direitos e conquistas económicas, sociais e cívicas, intensificando a exploração, aplicando medidas brutais de austeridade, enquanto aumentam os seus lucros escandalosos, na lógica da preservação do sistema de exploração e opressão.
 
A política praticada e o pacto de agressão aplicado a Portugal, tal como à Irlanda e à Grécia, com ameaça de idêntica situação na Espanha e na Itália, estão a agravar as desigualdades, o desemprego e a pobreza, a pôr em causa a soberania e a independência nacionais, constituindo também uma ameaça à paz.
A crise financeira que assola parte do mundo coincide e, por sua vez, é parte do conflito económico, político e militar que já não se conhecia há meio século, com crescentes investimentos e pesquisas em novas e mais sinistras armas, incluindo em armas nucleares, drones e as chamadas armas não letais, estas usadas fundamentalmente para a repressão interna, o que consome orçamentos astronómicos enquanto, depois, faltam verbas para as funções sociais do estado.
 
Resultado da globalização neoliberal e da ofensiva imperialista crescem a pobreza, o desemprego e as desigualdades tornando-se também, por sua vez, instrumentos eficientes da autêntica guerra económica, social e política que se vive em diversos países, designadamente da União Europeia., enquanto são questionados direitos fundamentais ganhos pelos trabalhadores e povos ao longo de décadas de lutas pela emancipação social e política.
 
Entretanto, os EUA e a União Europeia persistem nas suas acções subversivas na Europa, América Latina, África, Sudoeste da Ásia e Oceânia, para ganhar vantagens económicas e/forjar alianças que permitam a instalação de bases, em claros actos de hostilidade e à custa das populações locais e da sua soberania.
 
Contudo, a situação global mostrou, nos últimos anos, que neste contexto adverso os povos têm demonstrado uma admirável resistência e luta contra a opressão e a exploração, contra as  injustiças, na defesa da liberdade e da paz, numa prova inequívoca de que o futuro do mundo será o que a humanidade decidir.
 
Na União Europeia, cujas acções e objectivos estão cada vez mais distantes dos princípios estabelecidos na Carta das Nações Unidas, princípios esses que devem ser respeitados pelos governos nas relações entre os estados, designadamente o respeito pela soberania; o não recurso às armas para resolver conflitos; a não interferência nos assuntos internos de cada país; o respeito pela integridade territorial dos estados;  a resolução pacífica dos conflitos; o respeito pelos direitos humanos fundamentais e a cooperação entre estados. A realidade sublinha a hipocrisia da atribuição do Prémio Nobel da Paz 2012 à União Europeia, o que levou a que a minha organização, na Assembleia da Paz e Conferência que organizou em Outubro passado, tenha repudiado a atribuição deste prémio.
 
A resistência e a luta dos povos por melhores condições de vida e por outras políticas, a rejeição dos objectivos e imposições do imperialismo, a afirmação e exigência de mudanças para garantir um futuro de paz, igualdade, respeito e cooperação entre estados, são, neste quadro de violentos ataques contra os trabalhadores e os povos, um factor decisivo para parar a crescente agressão e exploração e para abrir caminho às transformações sociais, ao desenvolvimento, à justiça e à paz.
 
Queria ainda acrescentar que a minha organização tem denunciado e continua a denunciar com crescente legitimidade as propostas e acções inaceitáveis da NATO, salientando-se a Campanha "Paz sim! NATO não!", realizada durante a Cimeira da Nato em Lisboa, em 2010.
 
Consideramos fundamental continuar a realizar acções deste tipo em diferentes países e, simultaneamente, desenvolver acções de solidariedade com os povos vítimas de agressões, pôr em prática as linhas de acção decididas na Assembleia Mundial da Paz, realizada em Julho, em Kathmandu, tal como reafirmámos no nosso encontro da Região Europa, em Bruxelas, no passado mês de Outubro.
 
Precisamos de reforçar a nossa cooperação na defesa da paz no mundo. O reforço dos movimentos da paz no plano nacional e no plano mundial é agora mais do nunca necessário e urgente para fazer face à agressividade da exploração imperialista e da ofensiva contra os trabalhadores e os povos. A luta pela paz é é parte integrante e condição necessária para a justiça e o progresso social.
 
Consideramos que é necessário continuar a luta contra a guerra e o militarismo, contra a Nato, contra a militarização da União Europeia, contra as bases militares estrangeiras, por um mundo livre de armas nucleares, pela rejeição da participação de soldados e forças militares dos nossos países em agressões contra outros povos, como aqui nas iniciativas que assinalaram os 75 anos do massacre de Nanquim se pôde compreender ainda melhor. Precisamos de reforçar a nossa solidariedade e cooperação com todos os povos do mundo.
 
Pela paz. Obrigada.